quarta-feira, 20 de março de 2013

"Tava brisando..."





"Tô no Metrô ainda; tava brisando, olhando as pessoas e pensando o que elas fazem".

Recebi este SMS de um amigo logo pela manhã, foi inevitável e me fez parar um pouquinho....

Nos encontramos em pleno século XXI, a ascensão da era digital, da comunicação em massa, nunca antes em toda a história foi possível obter e transmitir tantas informações em frações de segundos. A evolução é evidente; posso estar na Coréia interagindo em tempo real com um cidadão na Argentina. Viagens que demoravam meses para serem concluídas, hoje podem ser realizadas em poucas horas... Talvez a melhor palavra para descrever tais conquistas seja "esplêndido". É fascinante estar em contato com dezenas de pessoas de diversas localidades ao mesmo tempo em que vejo o jornal na TV, ouço uma música e leio um resumo na internet. Os amantes não precisam mais aguardar ansiosos para que as cartas cheguem, assim como não precisamos mais frequentar bibliotecas.

Não posso negar que adoro a facilidade de ter tudo em mãos a todos os momentos, o avanço tecnológico é magnífico; só me pergunto: até onde?  Ao fazer uma comparação simples, levando em conta a minha infância e das crianças nascidas após 2005, percebo que a inserção ao mundo digital é bem maior. Aos 10 anos eu mal sabia o que era um computador ou um celular, no entanto, adorava empinar pipa, pulava muros e jogava bolinhas de gude; talvez eu tenha crescido e não perceba mais esses pequenos fatos cotidianos em outras infâncias,  mas raramente vejo, hoje, os guris de 12 anos correndo descalços pelas ruas atrás de uma bola, tomando banho de chuva ou subindo em árvores; contrapartida, basta acessar qualquer rede social (apesar das normas de privacidade e termos de utilização que proíbem os cadastros por menores de 18 anos) para ver  milhares de fotos de festinhas e juras de amores eternos que aparecem cada vez mais cedo e acabam cada vez mais rápido.

Infelizmente são raros os que buscam uma biblioteca para realizar pesquisas, mais raro ainda os que o fazem por amor. É lamentável utilizarmos, na maioria das vezes, apenas resumos de clássicos, afinal, por mais completo que ele seja nunca representará a essência da obra.

Retornando ao ponto de partida......

Ao ler o que citei logo no início a primeira coisa que me ocorreu foi: de segunda a sexta me levanto, me 'ajeito' e saio para trabalhar. Moro em uma cidade do interior, portanto todos os dias entro no ônibus acompanhada das mesmas pessoas, frequento os mesmos lugares....

"tava brisando, olhando as pessoas e pensando o que elas fazem".... 

Creio que todo esse avanço nos faz sentir invencíveis  podemos suprir todas as necessidades através dele.... mas... e o contato humano? Será já não se faz mais necessário? Temos nossas rotinas; cruzamos todos os dias as mesmas pessoas... Custa muito um sorriso? Que tal um bom dia?

Certa tarde andava um pouco desacreditada na vida pelo centro da cidade, não foi possível conter as lágrimas, eis que fui agraciada com a presença de um senhor que me olhou e..: - Não chora menina, Deus te ama, o que aconteceu?...... Essa foi sem dúvidas a maior prova de gentileza que tive nos meus, poucos, quase 20 aninhos.... Simplesmente sublime; uma pessoa que nunca te viu se por à disposição para seus problemas, uma conversa breve, sem nomes, sem cobranças, mas que me fez ver o que é humanidade, o que é amor ao próximo e que me fez resgatar aquilo que eu acabava de descartar: a crença de que as coisas podem melhorar....

"tava brisando, olhando as pessoas e pensando o que elas fazem".... 

O que as pessoas fazem? Com qual finalidade levantam às 4:30, se sujeitam a uma árdua rotina de 10h de atividades diárias para no fim do mês receberem um salário mínimo? Por que utilizam transportes mais que lotados, se distanciando de seus ninhos para estarem em um local em que mal sabem seu nome?

"tava brisando, olhando as pessoas e pensando o que elas fazem".... 

O que há por trás dos rostos mal humorados? Quais histórias e sofrimentos relatam as linhas de expressão de uma face de 40 anos? Será que há uma profissão bem sucedida atrás de todas as roupas sociais e casamentos felizes em todas as alianças?


... Tava brisando, olhando no espelho... o que eu faço?
... Tava brisando, olhando nossos dias... pra onde estamos indo?
... Tava brisando, olhando nossos atos... dói ser um pouco mais gentil?
... Tava brisando, olhando o progresso... parece que estamos cada vez mais próximos de nos tornarmos máquinas...
... Tava brisando, olhando ao redor... é... precisamos de um pouco mais de calor, de cor, de abraços, de sorrisos e principalmente de nós!


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