Há situações que simplesmente nos chocam a ponto de não saber ao certo como iniciar um relato.
Durante esta tarde, encontrava-me na diretoria do Curso de Turismo da UnG organizando determinada documentação para meu TCC, quando uma funcionária, não sei de qual setor, chegou ao departamento acompanhada de um senhor pedindo que nós o ajudássemos.
Ao ouvi-lo, nos foi apresentada a seguinte situação: “Sou índio, do Pará. Saí da minha tribo (com mais sete pessoas) assim que se iniciaram as obras em Belo Monte. Nos instalamos em Campinas onde vendíamos artesanato, até o momento em fomos assaltados e ameaçados; após abrirmos um B.O. partimos rumo a Guarulhos em busca do órgão de defesa ao índio. Demoramos 28 dias de Campinas até aqui a pé, chegando em Guarulhos ninguém nos atendeu. Estamos em um grupo de oito, hospedados em uma chácara na Rodovia Presidente Dutra, somente eu falo Português e queremos apenas o transporte até Itanhanhén onde há uma tribo.”
Terminados os esclarecimentos o senhor apresentou uma declaração da FUNAI contendo todos os seus dados e o B.O. aberto em Campinas. Afim de encontrar uma solução, ou ao menos um caminho para esta, liguei imediatamente à Reitoria da Universidade, onde sem sucesso a atendente me orientou a ‘’mandá-lo embora’’ pois a instituição não tinha nada a ver com o problema mencionado. Em sequencia busquei diversos outros órgãos, sem sucesso:
Diretoria de Serviço Social: pediu que entrasse em contado com a diretora do curso quando esta chegasse após às 19h. Ao solicitar o contato do órgão de defesa ao índio a atendente informou não ter ciência de nada desse tipo na cidade.
Secretaria de Assistência Social: informou que só seria possível fazer algo se informássemos o endereço completo de onde os índios se encontram hospedados; entretanto o senhor que se encontrava conosco sabia informar apenas que estão em uma chácara na Rodovia Presidente Dutra.
Posto Avançado de Atendimento ao Migrante: se responsabiliza apenas por casos dento do Aeroporto e de deportações.
Centro de Referência Indígena: não foi possível o contato, pois funciona somente até às 16h.
Por fim, recorremos à Defesa Civil, onde fomos orientadas a fazer o registro pelo 199. Somente neste momento fomos realmente ouvidas pela Secretaria de Assistência Social, onde a responsável conversou com o senhor que aguardava a mais de duas horas por algum resultado, novamente o problema se deu por causa da localização dos índios. Cansado de tantas ligações e nenhuma solução o senhor deixou a Diretoria de Turismo dizendo que seria mais fácil ir andando até Itanhanhén do que esperar os tramites dos órgãos públicos.
Tal situação me impeliu a questionar quais as reais funções de todas essas secretarias, qual o público que atendem assim como qual a grande dificuldade de se fazer ouvir; mais que isso de exercer o que rege os Direitos Humanos.
Em todos os momentos, para todos os órgãos deixei claro que o senhor sabia como chegar até o local em que está hospedado, porém não sabia informar o endereço; haveria muita dificuldade em disponibilizar uma viatura para acompanhá-lo?
Mais tarde conversando com um amigo, o mesmo me perguntou se não seria uma ‘’espécie de golpe’’; acredito que não, ainda que fosse caberia aos competentes designados a tais funções averiguar, o que infelizmente não aconteceu.
Concluo dessa forma com a triste certeza de que quem deveria ouvir e ‘servir’ ao povo mais necessitado na maioria das vezes fecha os olhos e se faz indiferente, como se não existissem.
Olá, Suelen. Lamentável. mas pelo menos, eles tiveram algum conforto, graças a você.
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