segunda-feira, 25 de março de 2013

Trilhando





Tudo o que eu sonhei
Está na minha frente
Tudo caminhando num processo longo de ser gente
Está em nossas mãos
É a nossa vida
Cada escolha sempre determina
O que vem em seguida ♪♫
(Lulu Santos) 



É simplesmente inevitável, crescemos, querendo ou não... Que delícia era aos 12 imaginar que aos 18 seria dona de meu nariz... Já estou com 20 e ainda sou extremamente dependente, mais do que antes, hoje o mundo pesa sob minhas costas e  já não existe chão sob meus pés.

Enfim, o outono chegou, e com ele posso olhar para mim, me conhecer, me reservar, e acima de tudo me renovar.. Assim como as folhas que ao fim da vida caem, deixo ir de mim toda a dor, mágoa e incerteza.. É incrível como a cada dia as lágrimas encontram mais dificuldade em sair e quando saem parecem me sacrificar aos poucos.. É, talvez meu coraçãozinho não seja mais tão inocente, e confesso, que esse lento despertar para o que realmente é o mundo dói... e muito.....

O mais difícil é sem dúvidas ter que decidir, não apenas qual roupa vestir, mas quais palavras usar, em quem acreditar, em que apostar todas as suas fichinhas... Só não posso esquecer, que pior ainda que decidir, é ter que começar a se habituar com as máscaras de mil faces que cada um pode te apresentar, será que serei assim?

A palavra que mais ouço é p...a...c...i...ê...n...c...i...a..., todos me dizem para esperar pois irá melhorar, será? Até quando esperar? E quando você chega à indiferença, vale continuar tentando? Até onde vale a pena? Qual a hora certa de parar?

É evidente que irá passar e que essa tal fase de "virar adulto" é complicada para todos, mas ouvir 'relatos' de que 'também passei por isso' não mudará absolutamente nada, afinal, mesmo que me descreva não conhecerei o sabor dos morangos sem antes prová-los, assim como o paladar, cada situação, mesmo que igual, é única para cada um que a vive...

Em meio a esse emaranhado de erros e acertos vou levando meus dias, me encaixando onde caibo, na esperança de uma hora encontrar meu lugar.





quarta-feira, 20 de março de 2013

"Tava brisando..."





"Tô no Metrô ainda; tava brisando, olhando as pessoas e pensando o que elas fazem".

Recebi este SMS de um amigo logo pela manhã, foi inevitável e me fez parar um pouquinho....

Nos encontramos em pleno século XXI, a ascensão da era digital, da comunicação em massa, nunca antes em toda a história foi possível obter e transmitir tantas informações em frações de segundos. A evolução é evidente; posso estar na Coréia interagindo em tempo real com um cidadão na Argentina. Viagens que demoravam meses para serem concluídas, hoje podem ser realizadas em poucas horas... Talvez a melhor palavra para descrever tais conquistas seja "esplêndido". É fascinante estar em contato com dezenas de pessoas de diversas localidades ao mesmo tempo em que vejo o jornal na TV, ouço uma música e leio um resumo na internet. Os amantes não precisam mais aguardar ansiosos para que as cartas cheguem, assim como não precisamos mais frequentar bibliotecas.

Não posso negar que adoro a facilidade de ter tudo em mãos a todos os momentos, o avanço tecnológico é magnífico; só me pergunto: até onde?  Ao fazer uma comparação simples, levando em conta a minha infância e das crianças nascidas após 2005, percebo que a inserção ao mundo digital é bem maior. Aos 10 anos eu mal sabia o que era um computador ou um celular, no entanto, adorava empinar pipa, pulava muros e jogava bolinhas de gude; talvez eu tenha crescido e não perceba mais esses pequenos fatos cotidianos em outras infâncias,  mas raramente vejo, hoje, os guris de 12 anos correndo descalços pelas ruas atrás de uma bola, tomando banho de chuva ou subindo em árvores; contrapartida, basta acessar qualquer rede social (apesar das normas de privacidade e termos de utilização que proíbem os cadastros por menores de 18 anos) para ver  milhares de fotos de festinhas e juras de amores eternos que aparecem cada vez mais cedo e acabam cada vez mais rápido.

Infelizmente são raros os que buscam uma biblioteca para realizar pesquisas, mais raro ainda os que o fazem por amor. É lamentável utilizarmos, na maioria das vezes, apenas resumos de clássicos, afinal, por mais completo que ele seja nunca representará a essência da obra.

Retornando ao ponto de partida......

Ao ler o que citei logo no início a primeira coisa que me ocorreu foi: de segunda a sexta me levanto, me 'ajeito' e saio para trabalhar. Moro em uma cidade do interior, portanto todos os dias entro no ônibus acompanhada das mesmas pessoas, frequento os mesmos lugares....

"tava brisando, olhando as pessoas e pensando o que elas fazem".... 

Creio que todo esse avanço nos faz sentir invencíveis  podemos suprir todas as necessidades através dele.... mas... e o contato humano? Será já não se faz mais necessário? Temos nossas rotinas; cruzamos todos os dias as mesmas pessoas... Custa muito um sorriso? Que tal um bom dia?

Certa tarde andava um pouco desacreditada na vida pelo centro da cidade, não foi possível conter as lágrimas, eis que fui agraciada com a presença de um senhor que me olhou e..: - Não chora menina, Deus te ama, o que aconteceu?...... Essa foi sem dúvidas a maior prova de gentileza que tive nos meus, poucos, quase 20 aninhos.... Simplesmente sublime; uma pessoa que nunca te viu se por à disposição para seus problemas, uma conversa breve, sem nomes, sem cobranças, mas que me fez ver o que é humanidade, o que é amor ao próximo e que me fez resgatar aquilo que eu acabava de descartar: a crença de que as coisas podem melhorar....

"tava brisando, olhando as pessoas e pensando o que elas fazem".... 

O que as pessoas fazem? Com qual finalidade levantam às 4:30, se sujeitam a uma árdua rotina de 10h de atividades diárias para no fim do mês receberem um salário mínimo? Por que utilizam transportes mais que lotados, se distanciando de seus ninhos para estarem em um local em que mal sabem seu nome?

"tava brisando, olhando as pessoas e pensando o que elas fazem".... 

O que há por trás dos rostos mal humorados? Quais histórias e sofrimentos relatam as linhas de expressão de uma face de 40 anos? Será que há uma profissão bem sucedida atrás de todas as roupas sociais e casamentos felizes em todas as alianças?


... Tava brisando, olhando no espelho... o que eu faço?
... Tava brisando, olhando nossos dias... pra onde estamos indo?
... Tava brisando, olhando nossos atos... dói ser um pouco mais gentil?
... Tava brisando, olhando o progresso... parece que estamos cada vez mais próximos de nos tornarmos máquinas...
... Tava brisando, olhando ao redor... é... precisamos de um pouco mais de calor, de cor, de abraços, de sorrisos e principalmente de nós!


segunda-feira, 4 de março de 2013

Despertando





Nova manhã de segunda; definitivamente se inicia mais uma semana.

Não posso dizer que tive uma boa noite de sono, tampouco que ela me deixou irritada ou que levantei cansada. Nas horas que passei meio desperta pela madrugada pude pensar em mim, confesso que meus pensamentos estavam muito confusos e não me lembro com clareza nem a metade deles.

Diferente da maioria dos outros dias me alegrei ao ouvir meu despertador; levantei; me arrumei e... BOM DIA!!!!!!

O ônibus lotado não me indispôs, assim como ver o Sol se levantando não me desalegrou... No breve trajeto que percorro a pé até meu trabalho pude parar e reparar na cidade despertando, e não pude negar, não pude resistir ao encanto de "mais um dia". Longe da loucura entre gritos e corre corre do horário comercial até mesmo as pombas e calçadas quebradas ganham um 'ar mágico',  belo.

Talvez a única coisa que nos falte para sermos nós, para sermos felizes é o silêncio; somente nele há todas as respostas, o autoconhecimento. 

Uma pausa em meio ao tumulto, nos revela coisas surpreendentes, mesmo que rotineiras.

É um erro dizer 'não tenho tempo', assim como é um erro afirmar: 'quando der farei.....'

Talvez eu nunca cresça, e sou feliz por isso; feliz por poder me surpreender, por poder enxergar os sonhos e realizações em cada nova manhã.




Todas as crianças nascem bem na ponta dos finos pelos do coelho. Por isso elas conseguem se encantar com a impossibilidade do número de mágica a que assistem. Mas conforme vão envelhecendo, elas vão se arrastando cada vez mais para o interior da pelagem do coelho. E ficam por lá. Lá embaixo é tão confortável que elas não ousam mais subir até a ponta dos finos pelos, lá em cima. Só os filósofos têm ousadia para se lançar nesta jornada rumo aos limites da linguagem e da existência. Alguns deles não chegam a concluí-la, mas outros se agarram com força aos pelos do coelho e berram para as pessoas que estão lá embaixo, no conforto da pelagem, enchendo a barriga de comida e bebida:

— Senhoras e senhores — gritam eles —, estamos flutuando no espaço!

Mas nenhuma das pessoas lá de baixo se interessa pela gritaria dos filósofos.
— Deus do céu! Que caras mais barulhentos! — elas dizem.
E continuam a conversar: será que você poderia me passar a manteiga? Qual a cotação das ações hoje? Qual o preço do tomate? Você ouviu dizer que a Lady Di está grávida de novo?

O Mundo de Sofia - GAARDER, Jostein